Jacqueline Suicide é a recrutadora oficial do site no Brasil. Foto por Guilherme Santana.
Claro que
não é necessário repetir para você, interessada, nem pra você, amante de
garotas tatuadas e gatas do Instagram (e derivados),
que o site oferece uma "semipornografia
semiamadora" há 13 anos e conta com impressionantes cinco milhões de
acessos por dia. Considerando os números globais, o crescimento brasileiro
ainda parece tímido, porém é sabiamente
reconhecido pelo site, visto que o brasileiro não transa muito a ideia de pagar para consumir
putaria (quem poderá julgar?).
O SG vai muito
além de uma fonte de soft porn pago. Seu
carro-chefe é uma rede social herdada do saudoso MySpace
na qual, para você conseguir ser uma Suicide Girl e receber uma grana pelas
suas fotos, precisa se dedicar de verdade e interagir com os outros
usuários para fazer seu próprio rolê lá dentro. Pense na frase "Apoie sua cena local" a fim de
se situar um pouco no grau de dedicação exigido para ser uma Suicide
Girl.
Para
participar do site e se tornar uma hopeful
- termo que denomina modelos iniciantes que ainda não tiveram nenhum ensaio
comprado -, são necessários, além de acesso à
internet, ser maior de 18 anos e malemolência para tirar
a roupa de um modo confiante. O alcance do status de pink – quando a modelo já teve um ensaio publicado - depende de
você fazer um ensaio de fotos nos conformes do site com um fotógrafo
profissional indicado (ou não).
O ensaio é
postado pelo próprio fotógrafo e demora em média três meses para ser publicado,
dependendo da votação realizada pelos usuários. É aí que entra todo o trampo de
engenharia social para conquistar seguidores e fãs que vão colocar suas fotos
no ranking.
Jacqueline Suicide no modo SG. Crédito: Reprodução/Suicide Girls.
A veterana
Jacqueline Suicide aprendeu sozinha e na marra todos os macetes até conseguir o
status de pink depois da segunda
tentativa de publicar um ensaio. Esse know-how
da modelo alternativa paulistana fez com que buscasse por conta própria o staff
gringo e se oferecesse como recrutadora oficial
do site aqui no país. "Ajudo as meninas em tudo que puder, ensino todas as
dicas que aprendi sozinha, me fodendo, porque o
site não é fácil de [se] mexer." Até a última
vez em que conversamos, foram mais de 100
meninas recrutadas por ela, que diariamente posta fotos das suas escolhidas em
suas respectivas contas de Instagram a fim de levantar votos.
Embora o
cargo de recrutadora pareça um sonho para o
punheteiro médio, é um trampo que exige esforço e bastante tempo gastando
saliva e dedo para selecionar garotas que estão a fim de se arriscar na nudez artística. "Já estou até com
tendinite de tanto digitar", desabafa ela. "Tem de querer
mesmo, saber se portar e também fazer o meu tempo dedicado valer a pena."
Jacqueline termina a frase séria, como um aviso final de que ela não está
fazendo nada de brincadeira ou de caridade, visto que dá para descolar uma
comissão para cada menina que for publicada. "Organizo um dia para as meninas
se reunirem e tirarem fotos no mesmo dia com alguns fotógrafos:
isso já agiliza meu trabalho e acelera um pouco o processo para o site."
Adriana Cristina. Crédito: Reprodução/Suicide Girls.
Sim, o
processo é lento. O site só compra um ensaio por dia: é
quando a modelo aparece em destaque na página inicial. Adriana Cristina, hopeful há um ano e meio por conta
própria, conta que "o site está ficando mais conhecido a cada dia (...), e com esse aumento na procura acaba aumentando a
demora para a publicação dos sets, pois eles não lançam sets a todo o tempo. Tem um tempo de quatro horas de um set pro outro".
Mesmo com o
cachê de US$ 500 para a modelo (e US$ 200 para o fotógrafo), podemos dizer que é uma
competição tensa com as norte-americanas e inglesas que aparecem de enxurrada
todos os dias. "Todos os dias, entram mais
garotas no site e mais sets são enviados. E, assim, acaba atrasando mesmo a publicação",
explica Adriana.
Embora a persona Jacqueline Suicide seja um estouro nas redes sociais, especialmente por
causa do seu estilo roqueira e um nome de música do Mötley Crue tatuado no seu
bumbum generoso, a própria revela sem rodeios que não dá para depender
exclusivamente do site para sobreviver. Muito embora ser uma SG seja um status quo bastante almejado nos circuitos de
tatuados reaças da Rua Augusta e no Brasil adentro.
"Ainda há muito que fazer para isso dar certo," finaliza Jacqueline.
Zhaddi
Cerqueira Guimarães já é SG há quase três anos e revela que nunca construiu uma
relação de dependência total com o site. "Faço por prazer (...) e acredito que, para ter um set comprado, é a junção de querer
participar, se envolver no site e ser
interessante, e acho que a melhor maneira é ser
você. Adiantou para mim (risos)."
Zhaddi Cerqueira Guimarães, conhecida como Zad. Crédito: Reprodução/Suicide Girls.
Talvez o
fato de o site não depender exclusivamente de
homens com o olhar totalmente dedicado ao
dinheiro faça com que ele seja um rolê diferente
e mais confiável para as meninas que desejam se mostrar para um público mais
respeitoso e que realmente deseja ver um perfil mais alternativo. Ser uma SG é um
encontro entre uma cam girl e uma it girl do Instagram, só que bem mais versada na arte
do xaveco virtual.
Fabrícia Domingues. Crédito: Reprodução/Suicide Girls.
Não há
nenhuma regra de aparência definida, porém Jacqueline não esconde que já existe
um certo perfil procurado pelos usuários do site. A modelo não entrou em
detalhes, mas frisou que é preciso estar confiante e isso transparecer bem nas
fotos. Fabrícia Domingues, atualmente hopeful e cria da
Jacqueline, conta que é preciso "estar bem consigo mesma, aceitar o seu próprio
corpo e estar livre de preconceitos e
julgamentos". Zhaddi bateu na mesma tecla: "Qualquer uma pode participar e tem
chance de virar SG: o importante é ter vontade,
aceitar seu corpo e se sentir bem, que seus sets
vão passar também essa mensagem".
Porém nem só
de elogios é feito o site. A Renata Cunha é hopeful
desde 2013 por conta própria e decidiu não fazer mais nenhum ensaio ou
propaganda dele. "Achava sensacional ser SG, sonho mesmo, [mas] (..) você não
tem nenhum prestígio, atenção e o respeito necessário", desabafa a modelo.
"Alguns fotógrafos escolhem aquelas que mais interessam e mandam [para o site].
E [é] assim que você vai ficando para trás, isso
porque você paga para ser fotografada. Já fiz ensaio no ano passado que até
hoje não recebi nem as fotos, e isso [por]que paguei para umas gringas, indicada por uma SG daqui do Brasil, para fazerem as
fotos."
Renata Cunha. Crédito: Reprodução/Suicide Girls.
No mais,
todas as meninas (hopefuls e pinks) repetem o discurso de que a
experiência de ser parte do time mais tatuado da internet só trouxe boas
experiências e boas amizades. Mesmo ainda que o Brasil esteja
dando passos de bebê para reconhecer o trabalho das meninas. Zhaddi
confirma que "deveriam respeitar muito mais. Toda vez
[em] que eu viajo para algum trabalho do SG, vejo a diferença dos fãs de fora do Brasil (...) e
me sinto muito bem recebida em todos os eventos que já fui".
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